Cappuccino - O Hobbit: Uma Jornada Inesperada


Dirigido por: Peter Jackson



Após 9 anos de espera desde o último Senhor do Anéis, Peter Jackson volta ao universo de Tolkien com O Hobbit, carregando a enorme responsabilidade de manter o padrão de qualidade dos outros longas. Embora seja inegável a qualidade técnica do filme, com direção de arte e fotografia impecáveis bem como uma trilha sonora demasiado eficiente, o filme nos leva a questionar a decisão de dividir o livro em 3 filmes.

Ao reconhecer que o maior mérito de Tolkien é o universo criado em seus livros, Peter Jackson revoluciona ao usar os 48 quadros por segundo em conjunto com o 3D para criar cenas vislumbrantes e fáceis de serem lembradas. A riqueza de detalhes dos cenários é tão grande que demanda um pouco mais de tempo para o espectador admirar o universo, tornando o ritmo cadenciado sem que isso seja um problema. O uso do 3D aqui é quase obrigatório, uma vez que Peter Jackson abusa da profundidade de campo aumentada, além das “brincadeiras” em que os objetos parecem sair da tela – entretanto, na minha experiência pessoal, me senti um pouco incomodado por estar exposto à tecnologia por tanto tempo, trazendo leves dores de cabeça.

A preocupação com detalhes, felizmente, não se prende apenas ao deleite visual, como no momento em que Bilbo encontra O Anel. Além do óbvio movimento de suas mãos, sempre levadas ao bolso, é possível perceber que o nosso amigo Hobbit está sempre pensando no artefato. Na cena em que ele e Gollum fazem um jogo de perguntas, o fato de Bilbo perguntar “O que está no meu bolso?” evidencia que o anel perturba sua mente, impedindo que qualquer outra pergunta mais inteligente e que não levantasse suspeitas do furto  fosse proferida.



E se o universo detalhado é, no plano geral, magnífico, o mesmo não se pode dizer da individualidade dos personagens. Enquanto os anões funcionam muito bem como grupo, trazendo momentos de alívio cômico similares àqueles do inescrupuloso Gimli em Senhor dos Anéis, não há o desenvolvimento profundo de suas individualidades. Dessa forma, o espectador passa a se preocupar, sim, com o destino do grupo mas sem se importar com o que acontece com cada personagem. A dificuldade de identificação encontra ainda a barreira da similaridade entre os nomes de cada anão, que são marcados apenas por suas características físicas, como “aquele da barba grande” ou “aquele gordão”. A regra não se aplica, entretanto, aos personagens presentes em Senhor dos Anéis, que trazem consigo valor nostálgico e, até certo ponto, o estranhamento – sem soar inorgânico - em ver Gandalf se referir a Saruman como mestre – e embora este ainda seja visto como benfeitor, sua conivência com o caso do Necromante já indica uma possível aproximação com o lado Mordor da força.

A familiaridade dos outros filmes se mostra sadia não só na identificação dos personagens, mas nas referências e explicações de elementos dos outros filmes, como a placa colocada por Bilbo em sua casa para evitar visitas e a origem da espada Stinger. Essas referências, embora extremamente eficientes e intrigantes, trazem consigo a previsibilidade - diga-se de passagem, o título do filme se mostra falho tanto no quesito "Inesperada" quanto em "Hobbit", posto que este assume papel secundário na trama - em cenas de ação, já que possuímos a convicção de que Gandalf e Bilbo vão sobreviver.



O grande problema do filme está, entretanto, em sua trama. Sem objetivo definido, o roteiro parece um pouco “inflado”, inserindo elementos que, embora divertidos, não adicionam nada à trama principal. Com isso, o primeiro filme assume um caráter introdutório, soando como um trailer de 169 minutos para a real aventura. Figuras importantes como o dragão Smaug, aquele que parece ser o grande vilão, sequer aparecem – a não ser pelo olho e a cauda – criando enorme expectativa para os próximos filmes enquanto torna este primeiro vazio em sua essência.

Caio Fagundes

Some say he’s half man half fish, others say he’s more of a seventy/thirty split. Either way he’s a fishy bastard.

2 comentários:

  1. Muito boa a crítica, jovem Caio! Tá ficando profissa. =)

    Pessoalmente, discordo da sua opinião em "Na cena em que ele e Gollum fazem um jogo de perguntas, o fato de Bilbo perguntar “O que está no meu bolso?” evidencia que o anel perturba sua mente, impedindo que qualquer outra pergunta mais inteligente e que não levantasse suspeitas do furto fosse proferida."
    Achei que essa pergunta em especial é, no caso, a mais "inteligente", sim - inteligente não no sentido de exigir um esforço mental, mas no sentido de ser pouquíssimo provável de ser respondida corretamente por Gollum - mas acho que isso é uma questão de interpretação, enfim...

    E eu juro que não sabia que o livro seria divido em 3 filmes. Isso foi novidade pra mim! O final e o "caráter introdutório" do filme até concretizaram mais a minha ideia de que só haveria um único filme pr'O Hobbit.

    Curti o filme. Mas não fiquei apaixonada por ele, não... Talvez meu senso crítico esteja numa fase chata ou eu esteja ficando velha pra essas coisas de Senhor dos Anéis... Ou os dois. rs rs

    Bom, resta esperar os próximos então...

    Continue escrevendo, novinho, que você leva jeito. ;)

    Beijos!

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    1. Obrigado pelos elogios, meu bem!
      Embora eu concorde com a sua opinião sobre a minha interpretação, é preciso lembrar que essa não era única pergunta pessoal que ele poderia fazer. Entretanto, era a única pergunta pessoal que evidenciaria o furto! ;)

      Beijos!

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