Cappuccino - Ted
Dirigido por: Seth MacFarleneQue atire a primeira pedra quem nunca amou um ursinho de pelúcia ou algum brinquedo infantil. Das características das crianças, é notável como os pequenos criam laços afetivos com enorme facilidade. É também notável como criam, em seu próprio mundo, complementos fantasiosos para tornar as experiências mundanas mais fantásticas. Ao personificar um brinquedo e usá-lo como companheiro, então, é de se esperar que esse laço afetivo seja estabelecido como se é com outros humanos. A abordagem desse assunto é feita de forma magnífica no drama Toy Story - me recuso a classifica-lo como infantil - e é retomada em Ted em forma de humor negro, mas sem abandonar a carga dramática da nostalgia, ainda que com pouca intensidade.
O filme conta a história de John Bennett (Mark Wahlberg), menino sem amigos e que, aos 8 anos, desejou que o seu ursinho Ted (Seth MacFarlane) tivesse vida. Então, usando o poder do desejo de uma criança, a magia do Natal traz vida ao ursinho. O filme avança 24 anos por meio da desgastada elipse de "exposição de fotos". Agora, John namora a belíssima Lori (Mila Kunis) e trabalha como vendedor de carros, apesar de passar grande parte do seu tempo fumando maconha com o seu amigo urso, que está contribuindo para crises no namoro do casal.
Embora relativamente bobo, o roteiro é eficiente na medida em que busca justificar cada sentimento exposto no filme. Com isso, a situação de um adulto que sente medo de trovoadas continua soando ridícula, apesar de emocionalmente justificável pelo trauma infantil superado pela presença do ursinho. O mesmo acontece com a fascinação do protagonista com o filme Flash Gordon, herói de infância de John e Ted.
O humor negro desempenha papel primário no longa e é digno de nota. Evitando o abuso e buscando deixar claro o quão absurdas as piadas são, ele deixa de ser ofensivo e passa a ser divertido. Outras vertentes do humor, como o nonsense, apesar de engraçadas em alguns momentos, não desempenham papel relevante na trama e soam um pouco forçadas. Além disso, o longa também arrancará risadas do espectador ao se usar de inúmeras referências a filmes e figuras modernas, como Top Gun, Justin Bieber e o próprio Family Guy, desenho animado também dirigido por Seth MacFarlane.
A direção de arte faz um excelente trabalho ao deixar evidente aquilo que se sente em cada espaço. É possível observar, por exemplo, a utilização de tons escuros, estampas inorgânicas e espaço reduzido na casa de Donny (Giovanni Ribisi), evidenciando o ambiente antiquado e triste em que vive o personagem, além de criar um ambiente claustrofóbico ideal para a cena. Detectamos, também, o uso de um vestido vermelho por Lori na festa de seu chefe Rex (Joel McHale), destacando-se dos tons quase monocromáticos dos outros convidados e mostrando como ela é o centro das atenções, em contraponto ao suéter velho e escuro de John, evidenciando sua falta de tato social.
O elenco como um todo atua de maneira convincente e ajuda a fazer todas as situações absurdas parecerem extremamente orgânicas. Nesse quesito, a figura que merece maior destaque é a do Ted. Sendo absurdo por definição, o ursinho falante se mostra uma verdadeira contradição ao se usar da voz MacFarlane. A animação explora todo o potencial do motion capture, tecnologia que ainda sofre um pouco de preconceito por parte da Academia apesar de ser extremamente competente na criação de personagens que, sem ela, seriam completamente inorgânicos e inexpressivos, diferente do carismático Ted.
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Excelente como sempre, camarada!
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